Quando eu tinha mais ou menos 3 anos de idade, meus pais e eu fomos para a praia, como fazíamos todo ano, nas férias. Minha mãe, então grávida do meu irmão, ficava boa parte do tempo sentada, e meu pai caminhava comigo de vez em quando pela areia. Eu ficava tempos brincando com meu baldinho e minhas ferramentas, montando meus castelinhos (hoje vejo que eram apenas montes de areis sem forma, mas para mim, eram castelos lindos).
Para fazer os castelos de areia era necessário dois ingredientes especiais: areia e água. Mas eu era pequeno, e não podia ir sozinho até o mar pegar água, tinha que pedir que meu pai me acompanhasse (dado o fato de que minha mãe não gostava muito do mar e preferia mesmo ficar sentada (ela estava com a gestação bastante adiantada nessa época).
Pedi ao meu pai que fosse comigo buscar água. Eu queria brincar na areia e minha água tinha acabado. Ele disse:
- Vai lá. Eu fico aqui olhando você.
Peguei meu baldinho (azul, se não me engano) e fui, todo contente, buscar meu material "de trabalho". Cheguei na beira do mar, peguei a água e me virei para a direção onde meus pais deveriam estar. E eis que aconteceu o problema...
Eu, com 3 anos de idade, não conseguia achar o lugar onde meus pais estavam (assim como qualquer adulto de 30, na mesma situação), e me senti perdido. Via aquele monte de gente na areia, os prédios muito altos e nada de pai ou mãe. Comecei a andar, desesperado, tentando achar. O desespero ia aumentando e eu comecei a chorar compulsivamente.
Imagine o que é para uma criança que foi buscar seu baldinho de água para brincar, levando em conta que seu próprio pai estaria olhando e cuidando para que nada acontecesse, e não conseguia achar o caminho de volta.
Saí com meu baldinho semi-cheio chorando em meio à multidão, morrendo de medo de ficar ali sozinho, sem ninguém, sem saber o que fazer.
Eis que uma senhora viu meu desespero e me ajudou a encontrar meus pais.
Desde aquele dia, inconscientemente tenho problemas em pedir ajuda de outras pessoas. Meu pai, que deveria estar me olhando, e para quem eu havia pedido ajuda, não prestou atenção em mim, e não me ajudou como deveria. E então eu fiquei sozinho, no meio de um monte de prédios e pessoas.
A sensação de hoje é a mesma. Elástica.
Quase nunca peço ajuda a ninguém. Tenho medo de ficar de novo perdido. Tenho sempre a impressão que, ao pedir ajuda, alguém teoricamente vai estar olhando por mim, mas vai descuidar e eu vou ficar perdido na praia de novo.
Sei que não sou mais criança e sei que hoje eu mesmo posso me achar, mas isso não muda essa história do passado e nem o que ela me causa, inconscientemente, cada vez que peço por um baldinho de água a alguém.
Obrigado pela ajuda!
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