A lembrança mais antiga que tenho de quando era criança sobre minhas "ambições profissionais" é de que eu queria trabalhar com papéis.
Como era muito criança ainda e nem sabia direito como eram as coisas no mundo do trabalho, eu só sabia que queria trabalhar em um escritório, escrevendo, preenchendo formulários. É verdade, eu não queria ser bombeiro, policial, astronauta e nem nada do tipo. Só queria ser um burocrata. Como aprendi a ler e escrever muito cedo, e gostava disso, queria usar esse conhecimento de alguma maneira. Tinha pilhas e mais pilhas de livros, revistas e papéis em branco e vivia montando meu escritório em casa.
Naquele tempo, meus pais trabalhavam fora e sempre trocavam muitas informações sobre o que havia acontecido em seus dias de trabalho quando chegavam em casa à noite. Isso devia criar um click dentro de mim e por isso eu queria ser igual a eles.
Mas vendo tudo isso com os olhos de hoje, eu entendo melhor o que se passava na minha cabeça de criança. Eu achava o máximo ter pai e mãe que trabalhavam fora e tinham várias histórias para contar quando chegavam em casa à noite. Tinham sempre muitos assuntos: alguns eram divertidos para eles, porque riam muito e outros eram extremanente irritantes, já que se falava neles com raiva. Dava para sentir isso na voz e nas atitudes dos dois. O burocrata que existia em mim apareceu para materializar de alguma forma esse desejo de ser igual a eles. Até então eu não entendia que podia ser outra coisa e não precisaria trabalhar com tantos papéis para ser como eles.
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